Maragatos x Chimangos

Embora a maioria das pessoas achem que os termos maragatos e chimangos surgiram na Revolução Farroupilha, aqui está a verdadeira história.

Maragatos e chimangos foram a campo enfrentar-se pela primeira vez em 11 de fevereiro de 1893, no combate do Salsinho, nos arredores de Bagé. Embora nem sempre seja fácil saber quem era o que naquele conflito de caudilhos, a luta entre maragatos e chimangos foi travada entre os partidários de Gaspar Silveira Martins e os seguidores de Júlio de Castilhos – e nada mais era do que um reflexo do choque entre o antigo regime monarquista e a nova ordem republicana.

Chamavam-se “maragatos” os federalistas de Silveira Martins, partidários de um regime parlamentarista à inglesa. O apelido fora dado pelos republicanos castilhistas para insinuar que os rebeldes eram mercenários estrangeiros, pois o termo “maragato” designava imigrantes espanhóis radicados no Uruguai, oriundos da província da Maragateria. Embora, com o passar dos anos, o termo foi aceito pelos maragatos e símbolo de honra dali pra adiante. 

Não se pode dizer que os republicanos de Castilhos – favoráveis ao regime presidencialista de cunho positivista – tenham se identificado com a alcunha que lhes imputaram os maragatos: “chimango” é uma ave comedora de carniça. A bem da verdade, durante os terríveis confrontos da Revolução Federalista de 1893, os chimangos eram mais conhecidos como “pica-paus”. Embora ninguém saiba ao certo a origem do apelido, ele com certeza também foi tomado como ofensa pelos castilhistas.

Evidentemente não foi a guerra de nomes, nem a de cores – os maragatos usavam lenço colorado; os chimangos brancos – que alimentou o ódio mortal entre as duas facções. Mas o fato é que muito se matou e muito se morreu ao longo de dois anos pelos quais o conflito ensangüentou o pampa. Boa parte das dez mil vítimas foi morta por degola: um golpe de faca na carótida; forma rápida, silenciosa e barata de matar. Se os chimangos degolaram antes e mais do que os maragatos os maragatos logo decidiram que não valia a pena ”gastar pólvora com chimango”.

Fonte: Correio do Povo – 18/09/2003

Título original: O gre-nal do século. Século XIX